Vinhas
VINHA DA BASTARDA: 1,31ha, plantada em 1990 com Touriga Nacional, e em total reconversão desde 2024 para uma coleção de castas brancas “bastardas”, deixadas de lado pela indústria moderna do vinho, mas de grande valor qualitativo e para a preservação da história do Dão: Bical, Cerceal-Branco, Alvar Roxo, Terrantez, etc. Status (classificação de Pedro Parra): Villages e 1er Cru Altitude (max 293m, min 280m) Exposition : Sul
VINHA DA RUÍNA: 0,27ha, plantada em 1990, castas: 100% Cerceal-Branco (diferente do Cercial da Bairrada e do Sercial da Madeira, que é Uva Cão no Dão) Status (classificação de Pedro Parra): Grand Cru Altitude (max 292m, min 283m) Exposição : Oeste
VINHA DA FONTE VELHA: 1,43ha, plantada em 1990, castas: 50% Encruzado (Grand Cru), 30% Malvasia Fina e 20% Cerceal-Branco Status (classificação de Pedro Parra): Villages e Grand Cru Altitude (máximo 296m, mínimo 288m) Exposição: Sudoeste
VINHA VELHA: 1,12ha, ano de plantio 1961, field blend de 14 diferentes castas tintas e brancas: principalmente Água Santa e Campanário, depois Baga, Tourigo (antiga Touriga Nacional do Dão), Castelão Francês, Castelão Nacional, Jaen, Alfrocheiro, Bastardo, Tinta Pinheira, Tinta Carvalha, Trincadeira, Fernão Pires e Arinto Gordo. Status (classificação de Pedro Parra): Grand Cru Altitude (máx. 295m, mín. 291m) Exposição: Sul
VINHA DA NASCENTE: 3,72ha, plantados principalmente em 1990, algumas linhas em 2003, com as castas: Jaen, Alfrocheiro, Touriga Nacional, Tinta Pinheira e Tinta Roriz (a última está sendo gradualmente substituída por Tinta Pinheira, Baga e outras variedades de uvas tradicionais do Dão por meio de enxertia no campo) Status (classificação de Pedro Parra): Villages e Grand Cru Altitude (máximo 299m, mínimo 291m) Exposição: Sudoeste e Sul
VINHA CELTA: 0,65ha, 75% de Bical plantada em 1961, 25% de Jaen plantada em 1990 Status (classificação de Pedro Parra): Grand Cru Altitude (máximo 292 m, mínimo 288 m) Exposição: Sul e Sudoeste
VINHA ROMANA: 2,50ha, plantados de 1990 a 2005, castas: Touriga Nacional, Alfrocheiro, Encruzado e Tinta Roriz (essa gradualmente substituída por castas brancas antigas do Dão através de enxertia no campo, como Barcelo e Uva Cão). Status (classificação de Pedro Parra): Villages Altitude (máx. 289 m, mín. 283 m) Exposição: Oeste (no quadrante Noroeste), Sudeste (no quadrante Nordeste), Este (no quadrante Sudoeste), Sul (no quadrante Sudeste)
VINHA DA CAPELA: 0,19ha, plantada em 1990 com Tinta Rotiz, totalmente reenxertada em 2022 para 100% Alvarelhão Status (classificação de Pedro Parra): Grand Cru Altitude (max 293m, min 291m) Exposição : Sudoeste
A Viticultura
“Nos anos 90 estudando na Itália, aprendi com Gianfranco Soldera, um dos melhores e mais lendários “vinaioli” do mundo, que o vinho nasce na vinha. Essa máxima virou um cliché, é bem verdade, mas aqui no Domínio do Açor, pensamos e materializamos este desejo de uma vinha viva, veículo para amplificar a voz da terra sem distorções, todos os dias. Quando assumimos a quinta, praticava-se ali apenas uma viticultura de proteção integrada. Mas queremos e podemos muito mais, e aos poucos, com o trabalho técnico e passional de nossa equipe, estamos a converter parcelas ao cultivo biológico e a adotar práticas da biodinâmica, a buscar novas formas de condução da vinha, de trabalho de arejamento e nutrição dos solos, de estimular a biodiversidade. Solos vivos originam vinhos vivos e minerais, e assim também fazemos a nossa parte pelo futuro do Dão e do planeta”.
RÉGISSEUR, GUILHERME CORRÊA
Também fomos um dos pioneiros em Portugal a trabalhar com o mais renomado consultor de poda e “canopy management” do mundo, que há anos aconselha produtores como o Domaine de la Romanée Conti, Domaine Leroy, Château Latour ou d'Yquem, o italiano Marco Simonit.
Quando descobrimos com Pedro Parra que tínhamos um terroir muito especial, trazer Marco para trabalhar conosco foi o caminho natural para maximizarmos todo esse potencial. Sem uma excelente viticultura, não há como revelar todas as nuances de nossos preciosos vinhedos, e sem uma excelente viticultura não há milagres que possamos fazer na adega para criar grandes vinhos de terroir, simples assim!
Com Marco, temos trabalhado para recuperar a madeira viva de nossos vinhedos, contornando os erros do passado de poda mutilante, que criou cones de dessecação. O objetivo agora é criar castelos cronológicos nos troncos de nossas videiras, facilitando o fluxo de seiva das raízes para as varas e criando varas mais uniformes em todo o comprimento dos braços do tronco. As varas uniformes, por sua vez, criam uvas mais homogêneas em termos de amadurecimento fenólico, precursores aromáticos e desenvolvimento de açúcar.
Com o trabalho de Simonit e seu time, treinando sistematicamente a nossa equipa de campo no Domínio do Açor, finalmente conseguiremos uma conexão muito mais poderosa entre nosso terroir e nossos vinhos, e vinhas que são muito mais resistentes a doenças e alterações climáticas, com uma vida longa e saudável.
MARCO SIMONIT, NOSSO CONSULTOR DE PODA E MANEJO DO DOSSEL
VINHA VELHA
O Domínio do Açor possui um património fabuloso de vinhas velhas de 60 anos de idade, 1,12 hectares plantados em “field blend”. Contamos com o inestimável trabalho do Sr. Manuel Domingos, um dos últimos classificadores de castas de Portugal, e de técnicos da CVR Dão, para percorrerem a nossa vinha e identificarem as variedades, planta por planta. Desta forma, poderemos investir nos próximos anos na gestão primorosa deste museu vivo, e na replantação das falhas com o mesmo material genético antigo e castas que fizeram os grandes vinhos do Dão no passado. Entre tantas castas, as principais identificadas foram: Água Santa e Campanário, depois Baga, Tourigo (antiga Touriga Nacional do Dão), Castelão Francês, Castelão Nacional, Jaen, Alfrocheiro, Bastardo, Tinta Pinheira, Tinta Carvalha, Trincadeira, Fernão Pires e Arinto Gordo.
Touriga Nacional
3º variedade mais plantada de Portugal, com 13.032 ha (IVV, 2018). Citada desde o séc. XVII em Portugal e desde o séc. XVIII no Dão, onde teve a sua origem, comprovada pela maior diversidade morfológica na região. É amplamente considerada como a melhor casta tinta do país, e recentemente foi inclusive aprovada no encepamento de Bordeaux na França. Possui cachos pequenos, com uvas de película grossa, época média de amadurecimento, produtividade baixa por planta. Os vinhos de Touriga Nacional são de coloração profunda, purpúrea ou rubi, com notável consistência. No olfato, devido à concentração elevada de terpenos livres, a Touriga destaca-se por sua incrível prestação floral, que vai das rosas às violetas, passando pelas flores de cítricos e da esteva (Cistus ladanifer). As frutas silvestres negras sustentam o núcleo dos aromas doces da variedade, destacando-se as amoras e também os abrunhos (Prunus insititia). A chamada arbustiva da esteva ainda pode ser complementada por notas de alecrim e folhagem, realçando a formidável complexidade destes vinhos. Portentoso no palato, exibe uma fabulosa concentração de elementos. Generosa no álcool, possui uma secura contrastante na boca conferida pelos taninos incisivos, os quais atacam principalmente as gengivas. Acidez em níveis médio-altos. Grande capacidade para guarda. A nossa Touriga Nacional no Domínio do Açor é constituída por velhos clones de Tourigo do Dão, primorosos na complexidade e muito mais telúricos que os clones modernos espalhados pelo país nas últimas décadas.
Alfrocheiro
Apenas 1.324 ha plantados em Portugal (IVV, 2018). Como apresenta pouca variação morfológica, acredita-se que seja uma casta relativamente jovem, que ganhou espaço no Dão após a filoxera. Contudo, exames mais recentes de DNA revelaram que há algum parentesco da Alfrocheiro com diversas castas ibéricas (Cornifesto, Malvasia Preta, Camarate, Castelão, Prieto Picudo, etc.) e mesmo com a francesa Trousseau, o que explicaria seu nome Tinta Francesa em Viseu. Brota e amadurece cedo, é produtiva, mas os cachos são pequenos e compactos, com uvas de pequena dimensão e película fina. Imenso potencial de qualidade nos vinhos do Domínio do Açor, com coloração de média intensidade, aromas picantes e especiados, com muita impressão de frutas silvestres vermelhas (e negras), morango em particular, e um característico floral-herbáceo, como o que encontramos no gerânio. A boca é sempre viva e estimulante, com excelente acidez e taninos finos que atacam a língua, como na Syrah. Carrega muito bem a mineralidade granítica do Dão.
Tinta Pinheira
Área plantada de 3.422 ha em Portugal (IVV, 2018). A Tinta Pinheira ou Rufete concentra-se totalmente na Beira Interior a sua área de plantio, com alguma presença no Dão e também no Douro, onde foi abandonada pela indústria do Porto pelo seu difícil e extremamente tardio amadurecimento, e principalmente pela pouca cor dos vinhos. Poderia a casta Rufete, com as semelhanças que encontramos no copo com a Pinot Noir ou com a Gamay, ter sido trazida à Sierra de Francia em Espanha e à vizinha Beira Interior em Portugal por Raimundo de Borgonha no séc. XI ou tantos outros imigrantes daquela região francesa, fatalmente ligados à viticultura na sua pátria? Testes recentes de DNA revelam apenas que a uva é muito antiga e está ligada a várias outras castas tanto em Espanha (Prieto Picudo), quanto em Portugal (Touriga Nacional). Cachos médios e bagos grandes, produtividade muito alta, álcool potencial muito baixo, excelente acidez. No Domínio do Açor é uma das castas de maior potencial, amadurece com perfeição e entrega vinhos fulgurantes nas frutas vermelhas vibrantes, ervas balsâmicas, especiarias, muita mineralidade granítica, corpo fluido, tenso, e taninos finos e apertados na língua e céu da boca, como na Pinot Noir.
Encruzado
Apesar do prestígio crescente da Encruzado, indiscutivelmente uma das melhores castas brancas de Portugal, a sua área plantada no país é de apenas 300 ha, sobretudo no Dão, onde originou-se. A casta é relativamente vigorosa, amadurece na altura média, possui cachos pequenos com bagos medianos, ligeiramente achatados. As gavinhas que se desenvolvem nos entrenós acima do terço médio conferem o nome à casta. É inevitável comparar os grandes brancos de Encruzado fermentados em madeira com os brancos fabulosos da Borgonha, principalmente a nível de textura, sofisticação e capacidade de guarda. Ainda que os aromas típicos da nobre casta portuguesa, caracterizados pelos laivos de pimenta verde e pimentão Capsicum, um floral de rosas, violetas e flores amarelas, além de um lado de resina de pinho e de pederneira que se desenvolve com o envelhecimento, tornam os grandes Encruzados do Dão únicos e memoráveis na sua expressão. No Domínio do Açor trabalhamos com as mais exclusivas tanoarias do mundo, de modo que a madeira “seja invisível”, apenas contribua para texturizar os vinhos e enaltecer a expressão da casta e, sobretudo, do nosso abençoado terroir.
Tinta Roriz
A Tinta Roriz ou Tempranillo é a casta mais plantada de Portugal, com 20.884 ha (IVV, 2018). Nativa da Espanha, provavelmente da Rioja, poderia ter sido trazida para Portugal no séc. XVIII, plantada na Quinta de Roriz pelo dono escocês Robert Archibald, o que explicaria o seu nome Tinta Roriz. No sul de Portugal, o “Aragonez” revela as origens hispânicas. A Tinta Roriz amadurece relativamente cedo, tem uma produtividade alta e gera vinhos estruturados, com taninos “chalky” sentidos sobretudo nas bochechas. A acidez é moderada. Os grandes vinhos de Tempranillo nascem sobretudo em solos calcários e em altas quotas, e por isso estamos paulatinamente a focar em outras variedades que revelam com mais naturalidade o potencial do Dão, aqui no Domínio do Açor.
Jaen
A Jaen ou Mencía é a 10ª variedade tinta mais plantada de Portugal, com 3.789 ha (IVV, 2018). Originária de Bierzo em Espanha, é mencionada no Dão a partir do final do séc. XIX, após a filoxera. A homogeneidade gené- tica no Dão em relação à grande diversidade em Espanha da Mencía confirma que a casta migrou de lá para cá, provavelmente trazida por peregrinos na rota a Santiago de Compostela. Ao contrário de outras castas mais disseminadas pelo país, há uma grande concentração dos plantios no Dão, e um pouco na Beira Interior. A produtividade é alta em Portugal, a casta amadurece precocemente, e possui cachos médios com bagos médios. Gera altos teores alcóolicos e baixa acidez de um modo geral, e por isso os melhores resultados estão no Dão em Portugal, pela altitude, frescor das montanhas e solos graníticos. Reforçamos no Domínio do Açor a sua vibração através de uma proporção do uso do engaço na vinificação. Os seus aromas florais, herbais e especiados são encantadores, a fruta na boca é aveludada, e os taninos são tipo “chalky”, sentidos mais nas bochechas e algo na parte frontal do palato.
Cerceal
A Cerceal-Branco do Dão não é a mesma casta Cercial da Bairrada, e também não deve ser confundida com a Sercial da Madeira, esta conhecida como Esgana Cão no continente ou Uva Cão no Dão. Há pouco mais de 200ha plantados em Portugal. Cachos médios e compactos, com bagos médios de película grossa e crocante. Amadurece tardiamente e possui um médio vigor. A alta acidez e o toque fenólico são os seus maiores atributos. Possuímos uma vinha espetacular de Cerceal-Branco no Domínio do Açor, a Vinha da Ruína, que gera vinhos elétricos, sem a densidade da Encruzado ou do Bical, mas muito vertical, com aromas de toranja e citrinos, além de impressões florestais. Conferimos textura a esse vinho em madeira usada. As outras parcelas de Cerceal-Branco entram nos lotes de outros vinhos para conferir garra, tensão e mineralidade.
Bical
O Bical possui uma área plantada de 1.377 ha em Portugal, abrangendo principalmente as DOPs da Bairrada e do Dão, regiões onde possivelmente está a sua origem. O seu inspirador nome local no Dão de Borrado das Moscas diz respeito às pequeninas manchas negras na película, quando a uva está madura. A variedade é vigorosa, amadurece muito precocemente, e apresenta cachos médios com bagos pequenos. Muito sensível ao desavinho (couloure). No Domínio do Açor estamos muito atentos a vindimar a Bical muito cedo, com um equilíbrio perfeito entre ácidos e álcool potencial. Um grande problema na região, acentuado com o aquecimento global, deriva-se do fato de que a Bical é vindimada junto com outras variedades brancas e até tintas, e assim perde o seu nervo e beleza. O nosso Bical da Vinha Celta pende muito mais aos citrinos que às frutas tropicais, tem força e verve para passar por madeira (sempre usada), e com o tempo faz lembrar um grande Riesling do granito.