Região
O Dão é região demarcada desde 1908, a primeira de vinhos não fortificados em Portugal. Todavia, a sua história vínica começa muito antes, provavelmente com os celtas, que habitaram a região e deixaram vestígios dentro do nosso Domínio do Açor, bem como os romanos que os sucederam, os quais muito provavelmente usavam o nosso Domínio como uma área agrícola: o caminho romano outrora ornamentado com arcos, o manancial e as fontes romanas testemunham esta vocação histórica desta terra tão nobre.
Nas mãos das cooperativas durante o Estado Novo, entre 1954 e 1971 foram instituídas 10 cooperativas com direito monopolista de compra das uvas. Os produtores poderiam comprar apenas vinho pronto neste cenário, concorrendo para uma completa inibição deste tipo de iniciativa privada. Com a entrada de Portugal na CEE em 1985, esta legislação monopolística tornou-se incompatível, e produtores independentes começaram a florescer: Quinta da Ponte Pedrinha (1987); Quinta da Pellada (1989), Quinta dos Roques (1989); Quinta das Maias (1989); Casa de Cello - Quinta da Vegia (1989); Quinta da Fonte do Ouro (1989); Quinta das Marias (1991); Vinhos de Darei (1997); Quinta da Fata (1998); Júlia Kemper (1999); Quinta do Perdigão (1999); Quinta de Lemos (2000); Casa de Mouraz (2000); Idealdrinks - Dom Bella (2011); Magnum Vinhos (2011); Druida (2012), Textura Wines (2018), etc.
Podemos dizer que embora alguns vinhos das cooperativas e do Centro de Estudo de Nelas das décadas passadas mostrassem a imensa capacidade do Dão em vencer à prova do tempo, foram nas últimas três décadas que o Dão se apresentou como a região com maior potencial para elaborar grandes brancos e tintos de elegância e mineralidade, potencial este que será plenamente revelado nas décadas vindouras.
O Dão situa-se no limite sul do norte de Portugal, e coincide com o Planalto Beirão, que está rodeado por maciços montanhosos compostos a norte pelas serras da Nave, Montemuro e Lapa; a sul pelas serras do Buçaco, Açor e Lousã, a leste pela Serra da Estrela (a mais alta de Portugal, com quase 2.000 metros de altitude s.n.m.m) e a oeste pela serra do Caramulo. A altitude das vinhas situa-se entre 150 e 700 metros.
Predominam solos de origem granítica (97,8%) de aproximadamente 300 milhões de anos, delgados, de textura arenosa a franco- arenosa, pH ácido, pobres em matéria orgânica e em elementos minerais extraíveis, com fraca capacidade de retenção de água e, portanto, com baixa fertilidade. Os afloramentos rochosos graníticos são muito frequentes.
O clima do Dão é nitidamente marcado pelas cadeias montanhosas que a circundam e que a protegem da influência atlântica. Genericamente, pode-se afirmar que o clima desta região é continental moderado, sendo a influência mediterrânica superior à atlântica.
Temperatura média anual: 14°C - 16°C, Temperatura média no Verão: 19°C, amplitude Térmica diária máxima no verão: 20°C.
O Granito
Do ponto de vista geológico, o granito é uma rocha ígnea félsica ou ácida (com elevado conteúdo de sílica), cujos principais minerais em sua composição são o quartzo e o feldspato potássico.
Do ponto de vista enológico, divide com o calcário a máxima excelência para a produção de vinhos de elegância, frescura, sutileza e complexidade aromática, tensão na boca e fina mineralidade.
No livro The Dirty Guide To Wine de Alice Feiring e Pascaline Lepeltier MS, o consultor Pedro Parra explica muito bem o efeito do granito nos solos: “granito significa que há muito quartzo. Quartzo significa energia, e mais importante, quartzo significa porosidade. Porosidade é igual a ar. No que diz respeito às raízes, movimento de água é igual a vida. Isso tudo parece simples, mas não se tem essa combinação nos solos tão frequentemente. O granito cria raízes muito saudáveis e profundas”.
Mineralidade
Em primeiro lugar, percebo e concordo que a videira não absorve a mineralidade geológica do solo até as uvas e consequentemente ao vinho. Ela é capaz de absorver somente pequenas quantidades de íons minerais ou nutrientes, conforme explicam os fisiologistas de plantas, e numa concentração final de aproximadamente 0,2% nos vinhos, não sabem a absolutamente nada.
Em segundo lugar, paradoxalmente, a mineralidade geológica (das pedras e solos dos vinhedos) existe nos vinhos. Reconheço, assim como outros sommeliers e provadores profissionais, o solo nos aromas, nos sabores e na textura, mesmo que em provas às cegas. Se o solo fosse apenas um substrato de ancoragem das videiras, que influenciasse apenas na hidrologia, no fornecimento de nutrientes básicos à sua subsistência e consequentemente no seu vigor vegetativo, tanto faz se o Dão fosse assente no granito ou no xisto. Mas sabemos muito bem a gigantesca diferença dos vinhos que nascem no granito da região, e percebemos muito bem essa mineralidade nos aromas e sabores dos seus grandes vinhos.
Guilherme Corrêa
Sub-regiões
As 7 sub-regiões do Dão
Zona fresca e de bons vinhos brancos. Com poucos produtores, mas bastante interessante e perto do Carregal do Sal, sendo contudo de maiores amplitudes térmicas, pelas noites mais frias dada a proximidade ao rio Alva e à Serra da Estrela e à Serra do Açor.
Esta região faz um pouco a transição climatérica entre o Dão de Silgueiros e o Dão de Carregal do Sal. Costuma ser mais úmida e chuvosa para norte e mais seca e temperada para sul (Mortágua), nessa última com solos também de origem granítica, ainda que mais barrentos e com presença de manchas de xistos férricos a caminhar para o Luso.
Excepcional sub-região para elaborar vinhos de grande frescura e elegância, devido ao efeito da maior altitude e proximidade às influências moderadoras da Serra da Estrela. O comportamento de grande parte das castas nesta zona é de mais elegância e tensão. Sub-região mais fria, ciclos mais longos.
É uma zona muito interessante pela localização mais a norte, apesar de mais chuvas e umidade. Engloba três vales de rios (Dão, Vouga e Coja), possui pequenos declives e há tendência a ciclos mais longos.
A grande diferença entre o Carregal do Sal e Nelas é que normalmente a pressão e a ocorrência de chuvas vindas da zona de Viseu e Silgueiros para em Nelas e Tondela. A zona do Carregal do Sal é portanto mais seca e precoce em termos de maturações, contudo tem manhãs frescas como as demais sub-regiões, sendo algo mais árida/seca de verão. O Domínio do Açor goza da frescura e continentalidade do Dão, mas ao mesmo tempo o seu mesoclima é menos marginal que na Serra da Estrela, as uvas amadurecem lentamente e com imenso equilíbrio entre açúcares e ácidos, e uma carga altíssima de precursores aromáticos, o “terroir perfeito”.
Zona muito similar à de Penalva do Castelo, ainda que ligeiramente mais seca. Solos de areia granítica avermelhada com alguma presença de xisto e argila.
A zona mais central e conhecida da região de vinhos do Dão. Com algum relevo e umidade acentuada. Aqui localiza-se grande percentagem de produtores, e muitos focados em uma expressão mais potente do Dão.
Especialistas
“What do you look for in a red wine? Do you favour elegance over power and concentration? Do you prefer a wine that is balanced and food friendly over one that’s soft and sweetly fruited? If so, the red wines of Dão could be just what you are looking for”
Dr. Jamie Goode, wineanorak.com
“Dão is sometimes likened to Portugal’s Burgundy. It’s not because of any physical similarity between the regions, but because of the style of wine. Like red Burgundy, good Dão doesn’t rely on power for its effect, but instead aims at subtlety and finesse, a cause helped by the good natural acidity of the grapes. These wines range from light, peppery and spicy to more full bodied and fruity, but there is almost always a lovely suppleness and brightness to the fruit. (They) still retain their essentially Portuguese character, which is surely a good thing in a world of increased standardization and uniformity”
Dr. Jamie Goode, wineanorak.com
“This DOP in north central Portugal produces some of the country’s most elegant, mineral red wines”
Jancis Robinson, The Oxford Companion to Wine
“Dão will surely realise its potential before too long”
Jancis Robinson
“There’s been a shift in recent years towards wine drinkers looking for more freshness and elegance, and few regions do this better than Dão, which boasts a dramatic landscape of granite mountains and pine forests”
IWSC (International Wine & Spirit Competition)
“This large and diverse Portuguese wine region, Dão, is now playing to its strengths, with innovative producers focusing on native grapes, reviving old vineyards and experimenting with both new and traditional winemaking styles”
Sarah Ahmed, Decanter
“The Dão, with its granite soil, produces wines that are driven by minerality and structure. They age equally well, always preserving a firm and solid core”
Roger Voss, Wine Enthusiast