Ambiente
SOLOS
O Domínio do Açor foi pioneiro em Portugal, ao lado dos nossos parceiros da Cortes de Cima no Alentejo, a trabalhar com o maior especialista do mundo em terroir, o chileno Pedro Parra. Pedro também é consultor de produtores do quilate do Domaine du Comte Liger-Belair, Domaine Roulot, Argiano, Comando G, Dominio del Águila, entre outros fabulosos clientes pelo mundo, somente os que ele escolhe a dedo para prestar a sua concorridíssima assessoria. Pedro ama o granito, considera estes solos entre os melhores do mundo, ao lado do calcário, para lograr vinhos de elegância, frescura e mineralidade.
Em sua primeira visita ao Domínio do Açor em maio de 2022, Parra e Paul Krug, seu assistente e “herdeiro profissional”, fizeram 8 “pits” profundos nas principais vinhas do nosso Domínio, numa primeira análise macro do nosso terroir. “A primeira separação que temos que fazer aqui, e que às vezes é uma dolorosa descoberta para alguns clientes, é se vocês têm solo ou pedra no Domínio do Açor”, sentenciou Pedro ao chegar nas vinhas. “Grandes vinhos nascem em terroirs com solo e pedra, e apenas com raríssimas excepções, em situações nas quais há somente um, ou somente o outro”. Para a nossa felicidade, o terroir do Domínio do Açor é muito bem composto entre solo e pedra, mais precisamente de alteritas ou rochas degradadas pelos processos químicos e físicos do intemperismo, que se manifestam em solos limosos-arenosos, com muita presença de quartzo, e a rocha-mãe granito enterrada em perfeita profundidade. Predomina em todo o vinhedo do Domínio do Açor uma alterita de nível 4 / 5, a qual, segundo Parra, é fantástica para a produção de grandes vinhos, salgados do granito.
Realizamos ao longo de 2022 um minucioso trabalho de escanear todo o nosso “domaine” com a empresa que trabalha com mapeamento de condução eletromagnética sugerida por Parra. Na segunda vinda dele em maio de 2023, analisamos mais 11 “pits” no Domínio do Açor, e o resultado não poderia ter sido melhor, 55% da nossa vinha foi classificada como “Grand Cru” de granito, 5% “Premier Cru”, e 40% de categoria “Villages”, em nível absoluto de qualidade.
Granito quartzítico limo-arenoso decomposto
Granito quartzítico areno-limoso decomposto
Granito quartzítico limo-arenoso decomposto com areia grossa em h3
Granito quartzítico areno-limoso decomposto
granito quartzítico limo-arenoso decomposto com um toque de umidade
Granito quartzítico areno-limoso decomposto com alguma umidade
Granito quartzítico limo-areno-argiloso decomposto com influência úmida no passado
Granito quartzítico limo-areno-argiloso decomposto com compactação dura
Granito quartzítico limo-arenoso decomposto com alguma compactação superficial
Granito quartzítico arenoso muito decomposto
Coordenadas: 40° 26’20” N / 7°58’21” W
Clima: Continental moderado (Borgonha / Barolo / Central Otago / Baden / Áustria / Washington)
Altitude: 293 metros s.n.m.m (Borgonha entre os 200 e 500 metros)
Pluviometria média anual: 827,70mm, novembro e dezembro os meses mais chuvosos (Borgonha 700mm, maio e junho mais chuvosos)
Temperatura média anual: 14°C - 16°C (Borgonha 12°C)
Temperatura média no verão: 18°C - 20°C (Borgonha 20°C)
Amplitude térmica diária máxima no verão: 20°C
Vinhos
REPORT DA SAFRA
“Foi um ano de ciclo longo, sem golpes de calor, com uma pressão significativa de doenças, valores médios de chuva, mas muita humidade ou frio nalgumas épocas fundamentais como a floração ou o vingamento. Após o bago de chumbo adivinhava-se uma grande colheita, em que se acreditou até às vésperas da vindima. O tempo chuvou-se nas fases finais de maturação trouxe decisões difíceis, mas muito certeiras da nossa parte. Podendo dizer-se que há vinhos de antes e de após as chuvas no Dão. Contudo, e para primeira colheita do Domínio do Açor, uma aprendizagem para todos, estamos com vinhos a um nível onde não se nota o pós-chuva. Todos os brancos foram apanhados antes delas. Já os tintos foram apanhados entre e após 3 períodos distintos de precipitação, com forte trabalho de seleção”
ENÓLOGO-CONSULTOR DO DOMÍNIO DO AÇOR, LUÍS LOPES
“A estatística falou de um dezembro de 2021 e um janeiro de 2022 históricos em termos de seca e temperaturas mais altas que nos 80 anos anteriores. Choveu pouco em novembro e só voltou a chover na segunda semana de março de 2022. Ainda que depois o inverno tenha sido frio e rigoroso, foi de certa forma desequilibrado entre semanas de intenso frio e semanas de sol e temperaturas acima do normal. No início do ciclo vegetativo, até aos 10 cm, vieram chuvas importantes e dias de temperaturas baixas, em finais de abril.
Apesar de não ter voltado a haver chuvas ou outras pressões para doenças, nos primeiros dias de maio foi realizado o segundo tratamento. Primeiras operações em verde desde fim de abril e durante mês de maio. Maio começou com tardes de temperaturas de até 32ºC. Aguaceiros e manhãs de nevoeiro antecederam a semana em que se iniciou a floração, na semana 19 (maio).
Dias de junho com chuva, intercalados com dias de calor, proporcionaram atempadamente o bom desenvolvimento do bago de ervilha, o crescimento da vegetação e fecho do cacho. Golpes fortes de calor durante alguns dias ao fecho do cacho e já após a desfolha.
Em inícios de julho foram feitas aplicações de caulino para tentar proteger a planta do escaldão. Julho foi o mês mais quente dos últimos 70 anos. O excesso e frequência com que se fizeram sentir as temperaturas altas influenciou negativamente o pintor, afetando a homogeneidade dentro do mesmo cacho sobretudo na Touriga Nacional, que mesmo em agosto ainda estava pouco regular. Na oportunidade de ter água para regar, foram feitas regas para tentar minimizar o impacto das ondas de calor. A Bical e a Cerceal sofreram algum encalamento.
Agosto seguiu com bastante calor, temperaturas diárias sempre acima de 30ºC. Nos últimos dias de agosto, a fazer coincidir com início das vindimas, as manhãs começaram frescas.
As ondas de calor obrigaram a algumas regas nas plantas mais sensíveis, como no Bical e o no Cerceal, e também no Barcelo recém-plantado.
A vindima decorre com elevada pressão por questões meteorológicas. Os brancos foram todos apanhados sem chuva e algum tinto, que apesar de baixos teores em álcool provável, estavam muito bem em questões de sabor. Depois choveu muito no pior momento, na transição de terminar brancos e começar os outros tintos ainda não maduros, que precisavam de perder o bouquet vegetal. Os tintos foram vindimados já passados por chuva.
Dezembro foi felizmente muito chuvoso. Apesar de quente. O frio só se acredita aparecer no início de 2023”
DIRETOR DE ENOLOGIA LUÍS LOPES
“O ano começou com frio e geada, apesar de um Natal de 2022 com temperaturas altas. O janeiro seguiu frio e bastante chuvoso na altura das podas. Os brancos e tintos de 2022 adormeceram no inverno, com málicos por fazer nos tintos e açúcares por fazer nos brancos. Meados de janeiro mais solarengo e com temperaturas entre -2 e 8ºC, sem chuva e muita luz. Terminaram as podas.
A rebentação segue em alta nos inícios de abril. Tempo seco e algum fresco matinal. Uma geada a meados de abril afetou ligeiramente as reenxertias. As primeiras chuvas do ano (praticamente) a meados de abril deram azos ao primeiro tratamento fitossanitário. Intercalado com este clima há dias de cerca de 28 a 32ºC durante abril, já por duas vezes.
O início de maio precipitou a floração na semana 18. Realizamos enxertia de borbulha na semana 22. Toda a floração ocorreu sem chuva.
Depois, instabilidades com chuva do fim da semana 20, até à semana 22 inclusive. Com cerca de 40-50mm de precipitação. Na semana 25 prevê-se uma onda de calor para o próximo fim de semana. O cacho segue a caminho de fechar.
Semana 27, início do pintor da Tinta Roriz. Semana 30 com imenso calor e manhãs de neblina. Manhãs frescas e elevada amplitude térmica. A primeira quinzena de julho com pressão de doenças. Terceira semana início da monda dos tafulhos (aglomerados de cachos interlaçados).
Fortes dias de calor no início de agosto que obrigaram à prevenção com caulino. No dia 10 de agosto realizamos o primeiro controlo de maturação. Meio de agosto com golpe de calor acima de 40ºC, forçando o início da vindima. A vindima teve 3 ou 4 paragens para aguardar pelas maturações perfeitas. Foi, contudo, um ano de álcoois médios e acidez ligeiramente abaixo do normal. Fizemos toda a vindima das melhores parcelas, antes de chover. Apenas as Tourigas e a Roriz foram vindimadas após uns dias com aguaceiros, que em nada atrapalharam a qualidade da fruta. Já com a vindima terminada, meados de setembro apresenta-se com dias de chuva abundante. Setembro acabou bastante quente e outubro a seguir-se, com mais de duas semanas de aproximadamente 30 graus e tempo sempre seco.
O frio começou na semana 47, depois de semanas de boas chuvas. Os vinhos de 2023 estão todos terminados de açúcares e málicos, antes da chegada do inverno”
DIRETOR DE ENOLOGIA LUÍS LOPES
BIODIVERSIDADE
Honramos a tradição secular de Oliveira do Conde no cultivo das oliveiras e produção de azeite da melhor qualidade. O próprio brasão da vila ostenta orgulhosamante esta vocação.
No Domínio do Açor possuímos um lago de quase 2.000m2 entre as vinhas, que abriga milhares de formas de vida importantíssimas para o nosso ecossistema, desde insetos, peixes, aves e até lontras selvagens.
Pastores locais trazem ovelhas para pastarem em nossas vinhas prática que contribui para o controle de algumas pragas e ajudam a manter os solos vivos e férteis.
Nos nossos olivais (cerca de 4ha) temos as variedades Cobrançosa, Picual e um pouquo de Galega e Arbequina. Também nas nossas oliveiras está a ser desenvolvido um longo trabalho de recuperação a nível de poda e de melhoramento do solo, com o cultivo em modo biológico
Em 2021 fizemos os nossos primeiros azeites, de extração a frio, das variedades Cobrançosa e Picual. Colheita rigorosamente manual e azeitonas processadas no menor espaço de tempo para garantir a melhor composição possível: baixa acidez, excelente componente aromática com elevadas propriedades nutricionais.
Uma das maiores belezas, e origem do potencial para entregar grandes vinhos no nosso Domínio do Açor é que as nossas vinhas não estão num bloco único de monocultura. Elas estão espalhadas pela propriedade, entre olivais, árvores de fruto (muitos citrinos de espécies e clones antigos, macieiras da região, pereiras, cerejeiras, amoreiras, etc.), roseiras e jardins de flores e plantas ornamentais, mata nativa e árvores muito velhas (carvalhos, sequóias, cedros do Líbano).